Estávamos no Parque Municipal de Belo Horizonte, quando um cidadão vinha
ofegante correndo atrás de um ladrão que assaltava na feira hippie da Av.
Afonso Pena. Ele conseguiu alcançar o ladrão que lhe estendeu a mão intentando enganá-lo.
O cidadão mandou-o dar a volta e tirando do seu bolso uma caixa com o óculos
roubados, mandou-o embora. Poucos minutos depois uma gritaria e uns dez
policiais passaram por nós correndo e logo depois voltaram com o ladrão
algemado e uma multidão aplaudindo o trabalho deles. “Muito bem!”
Apesar do número de policiais e da multidão ensandecida, o sujeito agrediu um
dos policias deixando os sinais das suas unhas no seu braço.
Enquanto um policial revistava o sujeito, eu me aproximei dele e comecei a lhe
falar do quanto ele era amado por Deus, ao que ele me respondeu prontamente: “Eu
sei.”
Olhei aqueles rostos felizes, delirantes com a prisão daquele jovem e minha
lembrança penetrou as celas de um cárcere, escola para marginais. Lugar de
violência que gera violência. Sabia também que logo, logo, aquele sujeito
estaria novamente nas ruas, mais cheio de ódio e disposto até mesmo, quem sabe,
a matar o cidadão que o perseguiu.
Mas o que mais gritava dentro de mim era a hipocrisia em que vive a nossa
sociedade. Dos ladrões declarados, nos cuidamos contra eles como podemos, mas
dos ladrões disfarçados não temos como nos esconder.
Naquela mesma semana estivemos no Shopping Estação de Belo Horizonte. Minhas
cunhadas, estrangeiras, foram comprar dois botões de rosas para decorar um
presente. Lá estava uma garota, arrumadinha, trabalhando, vendendo flores. Que
lindo! Quem diria que ali estava uma ladra oportunista...
Minha cunhada lhe deu uma nota de cinquenta reais. Ela tomou a nota em sua mão,
mas falou que não tinha troco, eu lhe estendi uma nota de dez reais, ela também
disse que não tinha troco, meu marido então contou moedas e lhe deu exatamente
o preço dos botões de rosa. Daí eu vi que ela estava com os cinquenta reais na mão como
se fosse guardar, mas esperei que a minha cunhada pediria o seu dinheiro e me
distraí. Saímos dali e logo depois, minha cunhada se deu conta de que a garota
não tinha lhe devolvido os cinquenta reais, então voltou lá com seu irmão e um sobrinho
e falou com a moça que ela não tinha devolvido o dinheiro... simplesmente ela
negou deixando a minha cunhada, apesar de indignada, impotente. Como ela poderia
provar que a vendedora não devolveu o seu dinheiro?
Aquela garota por certo, continua no seu trabalho “honesto,” roubando os mais
confiantes, a final é vendedora no Shopping Estação.
Esta mesma sociedade que grita: “Pega o ladrão!” Talvez na sua grande maioria é
ladrão oportunista “legal”: no Planalto; nas lojas; nas feiras; nos salões de
beleza; nos serviços informais; nos transportes; aonde não?
“Pega o ladrão!” E todos eles olham para alguém que está correndo na rua...
17.03.2018
Guiomar Barba.