“Ama
ao próximo como a ti mesmo”
Se alguém disser: "Amo a Deus", mas
odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a
Deus, a quem não vê, não poderá amar. (1 João 4.20).
A minha concepção, graças a
Deus, na versão antiga, era que meus ‘irmãos’ seriam apenas aqueles que comungassem
comigo a mesma fé, com o agravante de que quando conhecia alguém, se esta
pessoa não caía na minha simpatia, eu não faria nada para mudar aquela
situação, simplesmente procurava evitar o convívio, com a falsa justificativa
de que entre nós não havia uma boa química. Amar ou não amar dependia das minhas
conveniências. Mas estava tudo legal, finalmente eu também não odiava, “apenas”
não amava.
Quando comecei levar a sério
a vida cristã, determinei que não seria mais hipócrita, que iria lutar para
amar a todos, embora não gostasse de todos. É de vital importância saber que amar
ao próximo é ter reverência pela criação.
“Esse
princípio, Albert Schweitzer viveu intensamente. Não é difícil ter reverência
pelas coisas fracas, a relva, os insetos, os animais. Fracos, eles não têm o
poder de nos resistir. Difícil é ter reverência pelos homens fortes, que se
encontram ao nosso lado. Jesus ordenou ‘amar o próximo’. Porque é fácil amar o
distante. O próximo é aquele que está no meu caminho, que tem o poder de me
dizer não. Mais difícil que amar os doentes, que são carência pura, fraqueza
pura, dependência pura, mendicância pura, é amar aqueles que estão ao meu lado
e que são tão fortes quanto eu. Reverência pelos que estão ao meu lado. Se
Schweitzer se relacionou com os pobres negros doentes por meio da compaixão,
ele se relacionou com seus próximos, iguais, companheiros de hospital por meio
de amizade. E ele formula, na sua Ética, o princípio de que ‘um homem nunca
pode ser sacrificado para um fim.” Rubem Alves.
Se eu escolho a quem me convém amar, que justiça será a minha? Em que
estarei contribuindo para o desenvolvimento de bons relacionamentos a minha
volta? Lembro-me que quando me agreguei a um grupo de jovens, que fazia um
trabalho de evangelismo, uma das garotas, simplesmente me tratava com
hostilidade. Tantas vezes que eu tentava me aproximar, cumprimentá-la, ela era
arredia e na maioria das vezes até grosseira. Eu não a conhecia, nunca houve
atrito entre nós, nada que justificasse o repúdio dela por mim. Decidi então,
não permanecer em um grupo que pregava amor, sem quebrar aquela barreira. Em
cada encontro eu me acercava dela e procurava saber como ela estava. Percebi
que ela tinha alguns problemas com a sua autoestima, apesar de bonita. Ela
estava muito enferma da alma. A minha percepção se tornou a ponte entre nós.
Interessei-me sinceramente por ela e por seus problemas e todas as barreiras foram
quebradas e nos tornamos muito amigas, além de desfrutar do prazer de vê-la totalmente
mudada. Agora eu poderia vê-la sorrir também com os olhos. Ela tornou-se solta,
com uma melhor autoestima, ficando mais fácil ser notada pelos rapazes. Ela
casou com um dos melhores amigos que eu tinha em Salvador. Para mim, vê-la
salva de várias formas, me trouxe uma certeza de que eu deveria continuar
trilhando este caminho.
Entendo quando Paulo adverte: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. (1 Coríntios 13.1).
“Uma certa vez um
velho índio disse: dentro de mim, existem dois cachorros:
um deles é cruel e perverso,
o outro, generoso e
magnânimo.
Os dois estão
sempre
brigando!
Quando perguntaram
quais dos dois
cães ganharia a
briga,
o sábio índio parou
refletiu e respondeu:
Aquele
Que eu alimento! ”
Que eu alimento! ”
Por Guiomar Barba.