quarta-feira, 29 de junho de 2011

Por Manu Magalhães, 24 anos de idade, que é jornalista e gosta de trabalhar com música e discipulado – Revista Ultimato


Um estudo feito em uma universidade há alguns anos substituiu o texto bíblico de João 8 por uma paráfrase, em que Jesus andava pelas calçadas de Brasília quando a Polícia Federal lhe apresentou Roberto Jefferson . Ao ser questionado sobre a atitude a ser tomada, Jesus rabisca seu bloquinho e responde: “Aquele que nunca cometeu um erro, aperte a primeira algema”.

Esse texto, assim interpretado, me causou muito desconforto. Fiquei imaginando se a paráfrase se desse na Alemanha e Jesus dissesse ao exército que deteve Hitler: “Aquele que nunca cometeu um erro, que aperte o primeiro gatilho”.

Toda paráfrase é obviamente deficiente, e reconheço a gritante desproporção das conseqüências sociais do pecado da mulher adúltera, de Jefferson e de Hitler. Entretanto, o ponto não é analisar a crueldade do pecado, mas evidenciar a grandeza e o escândalo do perdão divino.

Houve um Deus que, por causa dos erros dos homens, deixou de lado sua glória e majestade supremas para sentir a fundo a dor e a alegria do ser humano. Só isso já seria suficiente para nos levar a mão à boca, mas ainda há mais. Esse Deus, em nossa pele, teve desejos tão intensos, e tão “incontroláveis” como nós, sede de poder, de aceitação, tentações das mais abomináveis às mais sutis. Entretanto, resistiu. Esse Deus encarnado poderia usar tal prerrogativa para ser implacável com nossas falhas. Porém, para nosso espanto, cedeu misericórdia  à justiça e usou sua experiência humana para criar uma ponte.  Ele se fez um de nós para fazer de nós um com Ele.

É com esta perspectiva que releio o pequeno estudo, confrontando o sentimento de Deus encarnado, o Cristo, com os meus. Por que me causa incômodo pensar que Ele perdoaria (ou melhor, perdoa) pessoas tão abomináveis? Por que meu primeiro impulso é encontrar erros nessa paráfrase, fazer ressalvas ou questionar a validade de exercício criativo em vez de me sentir profundamente agradecido por Ele haver se importado com pessoas tão desprezíveis como Jefferson, Hitler e eu?

O perdão ensinado por Cristo não visava esmigalhar a estima de quem errou, tampouco engrandecer sua própria retidão e justiça. Sua meta era reconciliar. É por isso que o perdão genuíno é tão importante nos relacionamentos. Ainda que alguém tenha cometido alguma injustiça contra mim, não há motivos para que eu a humilhe por seus erros ou louve a correção da minha conduta. O exemplo de Cristo não ignora pecados e virtudes, mas não os enfatiza. Perdão que não reconcilia não passa de mera desculpa.

O perdão que Cristo propõe é custoso. Engolir o próprio ego e, tendo o poder de castigar, preferir não acusar quem nos prejudicou, não é tarefa indolor. Nossa tendência é pensar que estamos sendo condescendentes com o erro quando, na verdade, estamos apenas promovendo a libertação. Ao perdoar, libertamos o outro da culpa e a nós mesmos do ressentimento e do orgulho. O perdão não faz o outro ascender ao nosso nível, mas eleva ambos ao nível de Cristo. Este, sim, é o verdadeiro escândalo do perdão.

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domingo, 26 de junho de 2011

MURIBECA




A cidade de Muribeca está situada a setenta e dois quilômetros de Aracaju no agreste sergipano, estando a uma altitude de cento e cinquenta e um metros. Estima-se que tenha uma população, contando com os povoados vizinhos, de mais de quatorze mil habitantes. Pois bem, é exatamente no minúsculo povoado de Fisgueiro, que segundo informações de habitantes do município, desova-se para toda região a maconha o crack e outras drogas, através de traficantes que seguindo o modelo das grandes favelas do Rio de Janeiro, determinam quando deve ou não funcionar no povoado, as lojas, escolas, etc. Conta-se que para que os estudantes de Muribeca e povoados tenham acesso à faculdade de Penedo, em Alagoas, é necessário que policiais os escoltem desde o trevo do povoado de Fisgueiro para que não fiquem à mercê dos traficantes que ali são autoridade máxima.
Fiquei estarrecida. No tal povoado as pessoas já estão cogitando abandonar suas propriedades ou vendê-las a preços possíveis de compra para alguém que se atreva ao risco de viver por lá.
Aqui em Muribeca, visitamos uma casa que vive uma cruel agonia com um dos membros da família de apenas vinte e dois anos de idade, mas já casado, pai de um filhinho de um ano, que mantém todos os familiares reféns das suas ameaças, dos perigos de traficantes matarem membros da família por conta de suas constantes dívidas nos pontos de drogas. Foi com dor que ouvi seu pai avô de setenta e oito anos, contando as atrocidades das quais é vítima por tentar conviver com seu monstrinho viciado no desespero de salvá-lo da miséria do vício.
 Meu marido e eu nos juntamos a uma turma de viciados em uma esquina. Apesar de eles já estarem viajando, pudemos compartilhar com eles do amor de Deus e da fugacidade da vida. Podemos dizer que foi legal ouvirmos quase todos eles falando ao mesmo tempo de suas visões de vida, e alguns, do desejo de sair daquela. Depois de um bom papo, convidamo-los a orar, o que eles aceitaram prontamente e com muita reverência, após nossa oração, um deles nos convidou a orar o Pai Nosso, seguido por todos, com entusiasmo o rapazinho seguiu com a Ave Maria rezada por todos seus companheiros. Logo após, nos despedimos e nos emocionamos com os abraços calorosos e palavras de gratidão por havermos dado atenção a eles. Realmente, se eu não estivesse vencida pelo cansaço, teria pedido ao meu marido para continuarmos mais tempo com eles dado a carência daquele bando.
Muribeca os critica. Fala que já não se sabe na cidade qual o jovem que é ou não dependente, mas a hipocrisia reinante é o que realmente nos revoltou. Muita gente naquela comunidade sabendo da pobreza e dor dos pais daqueles rapazes que roubam seus parcos pertences, por uma bagatela que lhes alcance para comprar pelo menos uma pedra de crack, compram deles a carne, o leite do bebê, as roupas de seus familiares ou qualquer objeto que lhes interesse. Quem é realmente o monstro?
Escutamos que um pastor da Igreja Metodista que está se preparando com sua esposa para servirem naquela comunidade, já tem um projeto para trabalhar com os drogados ali. Oremos para que ele siga em frente e conte com o apoio daquela cidade.

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segunda-feira, 20 de junho de 2011

CONTINUAÇÃO DE "EU NA BOLÍVIA"



Por três terças-feiras seguidas estivemos ministrando em uma casa onde se reúne um grupo de jovens para estudar a bíblia. Foi incrível quando, após a primeira ministração da palavra, ao orar com cada um em particular, conforme eles desejaram, Deus me revelou detalhes privados de cada um deles, orientando-os ou exortando-os conforme a necessidade de cada um. Não pude deixar de rir ao ministrar um rapaz bem jovenzinho, grandalhão, bonito, quando após a oração ele confessou que realmente ele estava vivendo o que me foi revelado, por isto ele ria também ao ser descoberto o seu segredo.

Na última ministração eu estava bem enferma do estômago, estive sem comer todo o dia, portanto, me sentia débil para falar. Então eu disse: Senhor, eu queria tanto um “locrito” (comida típica boliviana feita de arroz com frango, batatinha e algum cheiro verde picadinho), algo sadio para meu estômago delicado. A reunião começava às nove da noite, cheguei um pouco mais cedo. A dona da casa estava saindo para uma reunião de casais com seu marido. Ela veio me encontrar à porta e, após me abraçar, perguntou: não quer um locrito? Eu que sabia a oração que havia feito e que pelo o horário, já se esperava que eu houvesse jantado. Soltei um “querooooooooo!”. Imediatamente ela me levou a um restaurante próximo e me deliciei com um locrito à moda camba.

“Porque Ele tem cuidado de vós”. (1 Pedro 5.7).

Cheguei à casa na qual estava hospedada e, enquanto a dona vendia roupas, fui descansar um pouco antes de sair para uma das várias despedidas que nos ofereceram. Algum tempo depois ela me chamou para irmos, então desci e ela continuou sentada com a cliente. Pouco depois chegou a irmã da cliente, uma amiga minha também, que, apesar da beleza das roupas que lhe estavam sendo exibidas, parecia estar com seu pensamento em outra coisa. De repente ela disse: “eu queria dar algo a Guiomar, uma blusa, algo...”. E me olhando, disse: escolha. Eu vibrei, estava cobiçando fazia dois dias uma linda bolsa cinza, que não me era prioridade, mas me caia bem e que eu havia dito ao Senhor: se você quiser me daaaaar... Não me fiz de rogada, perguntei: até quanto? Ela deu de ombros, não importava. Agarrei, então, a bolsa e disse: esta? Ela balançou a cabeça aprovando e ficou meio sem graça diante do meu entusiasmo. Ela é bem tímida.

“Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos do teu coração.” (Salmo 37.4).

Fomos abençoadas por Deus em todos os sentidos. Trabalhamos muito e com muito amor e dedicação. Por suposto, fomos recompensadas com amor e muitos presentes espirituais e materiais. Chegamos a ganhar passagens com estadia para Miami, em um apartamento em frente ao mar, mas, apesar da insistência, dissemos não, porque o Senhor queria que terminássemos o trabalho para o qual fomos enviadas e ficamos felizes em obedecer.

Apesar de haver sido muito proveitosa nossa ida, nada me trouxe tanta alegria quanto poder ver o fruto do nosso trabalho passado. Fiquei atônita com a multiplicação dos talentos através daqueles que um dia ganhamos para Jesus. Muitos hoje estão pastoreando grandes igrejas, com vários ministérios sociais e trabalhando com muita seriedade em pró de vidas carentes.

Entre outros preletores ministramos em um hotel para empresários, ficamos maravilhadas diante da ministração de uma das mulheres que pertencia a nosso grupo de discípulas, uma mente brilhante, uma didática rara. Esta senhora é a líder do ministério, tem uma grande equipe de mulheres que, dirigidas por ela, desempenham um grande serviço para o Reino de Deus. Realmente compensa servir ao Senhor.

“Se o homem não foi feito para Deus por que só é feliz em Deus? Se o homem é feito para Deus, por que é tão contrário a Ele”? (Blaise Pascoal).
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quarta-feira, 15 de junho de 2011

EU NA BOLIVIA

Como sendo a primeira missionária em campos bolivianos, e tendo aberto o primeiro centro de recuperação para drogados, fui convidada para as bodas de prata de Peniel ali comemoradas, assim como foram convidados o primeiro pastor e o primeiro obreiro da casa de recuperação.


A pedido de muitos, decidimos esticar nossa estadia em Santa Cruz de La Sierra para praticamente um mês, o que foi confirmado por Deus através das ministrações em igrejas e diferentes grupos.


Em um hotel, ministramos no dia das mães, que lá é comemorado em vinte e sete de maio. Mães sofridas, doídas, machucadas por um mundo de drogas fácil, que se esfrega nos olhos curiosos de adolescentes e jovens, em sua maioria procedente de lares desestrurados, castigados por pais promíscuos, viciados em drogas, álcool e, em consequência, mães histéricas, que não conseguem lidar com o peso de problemas tão intensos. Lágrimas, gemidos tímidos, quase silenciosos marcaram aquela data que deveria ser apenas de alegria.


No domingo seguinte, novamente estávamos lá no hotel Caminho Real, ministrando para uma grande massa de pessoas ali reunida. Lá estavam também aquelas mulheres valentes, que desafiam todos os dias um trânsito caótico, com seu celular em punho, atendendo as diferentes e muitas chamadas; mulheres que labutam pela “plata” no dia a dia em busca de uma vida farta de roupas, joias, bijuterias, bolsas, sapatos, salões de beleza, maquiagens, clínicas de estéticas e todas as ofertas que lhes impõe um comércio explorador e homens enfermos, sedentos de sexo, necessitados de provar sua masculinidade e poder exibindo uma mulher bonita, siliconada, “plasticada”, decorada, bem vestida e, acima de tudo jovem. Quanto mais jovem, mais lhes aumenta o crédito de poder de sedução.


“Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor esta será honrada.” (Provérbios 31.30).


No entanto, constatamos que grande parte daquelas mulheres valentes, marcadas por separações e traições, fomentam a atitude dos homens atormentando-os a cada momento por “plata” e mais “plata” e fazendo-os conscientes de que o valor do homem está no que ele pode dar ou fazê-las desfrutar diante dos olhos invejosos das amigas.


“A mulher sábia edifica a sua casa, mas a louca com as suas próprias mãos a destruí”. (Provérbios 14.1)
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