Conhecemos uma garota que apesar de soteropolitana, ou seja, de ser de uma cidade onde existem milhares de igrejas evangélicas, ela sequer sabia o que os crentes faziam nas suas igrejas. Apesar de ser católica nominal, ignorava plenamente o que seria uma vida de espiritualidade.
No decorrer da nossa amizade, falamos para ela sobre o amor de Deus por nós, emprestamos alguns livros os quais ela leu sofregamente, enviamos músicas evangélicas; e quando ela desejou conhecer uma comunidade evangélica, foi levada por um amigo a uma igreja onde o pastor fez um apelo diretivo, insistente, constrangendo-a a “aceitar Jesus”. Evidentemente ela não voltou mais ali. No entanto, ela continuou no desejo de conhecer uma igreja evangélica e foi a uma Igreja Quadrangular cerca da sua casa, cujo pastor conquista multidões com as suas pregações inteligentes e sábias.
Fiquei profundamente emocionada quando ela me contou que durante todo tempo da mensagem ela chorou abundantemente, embora não soubesse por que chorava. Disse-me: “Saí de lá como se me houvessem lavado totalmente por dentro”.
Aquela garota foi ali por ela mesma, em busca de algo que desse resposta aos anseios do seu espírito. Estava desprovida de julgamentos sobre as pessoas que frequentavam aquela igreja, estava livre de conhecimentos doutrinários que regem a vida dos que se dizem crentes. Em suma, estava sozinha consigo mesma e suas carências.
Este fato me traz certa nostalgia.
Domingo eu estava assistindo uma palestra, quando se falou sobre relacionamentos de cônjuges e uma filha olhou para a sua mãe e fez uma crítica perceptível a todos os que estavam no banco de traz, trazendo-me a memória um episódio semelhante passado em outra igreja, e as minhas próprias lembranças de quantas vezes pensei nos pecados de outros quando ouvia certas considerações sobre delitos. Sinto profunda “inveja” daquela garota que não teve dedos apontados para nenhuma direção, mas na sua profunda sinceridade, olhava apenas para si mesma; em consequência, foi confrontada e lavada das suas transgressões recebendo perdão, conforto e o gozo da liberdade.
Leio no Facebook e recebo e-mails de inúmeras mensagens de lições de relacionamentos, sobre como viver feliz, bla bla bla. Se todas as pessoas que postam pensamentos alheios porque acreditam neles se determinassem a vivenciá-los, teríamos como resposta uma sociedade mais sadia, independente do credo religioso. Repito sempre Agostinho: “Pregue sempre, se necessário, use palavras.” No meu esforço para vivenciar a palavra, lembro-me sempre da ordem dada por Deus a Abraão: “Sê TU uma benção!” (Gêneses 12.2).Como esta garota, quero olhar para dentro de mim mesma. Quero reconhecer o quanto sou ambígua, como necessito ser sal, ser luz, não escandalizar os pequeninos, os ainda frágeis na sua fé.
“Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos.” (Mateus 7.1).
Por Guiomar Barba