DÊ A
LIBERDADE DE OUTREM O REJEITAR III, MP 3
O
Evangelho que escreveu Lucas, ou o evangelho segundo Lucas capítulo 13
versículo 34, estaremos hoje na segunda reflexão nesse versículo. Esta é a
terceira parte da reflexão. Nós pregamos a primeira no verso trinta e um, a
segunda, no verso trinta e dois e trinta e três, a terceira no verso trinta e
quatro. E hoje estaremos na parte dois dessa terceira reflexão, que diz assim:
“Jerusalém! Jerusalém! Que mata os profetas e apedreja os que te
foram enviados quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha
ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas e vos não quisestes.”
Uma
breve recapitulação do que falamos até aqui, somente citando os tópicos
principais das reflexões, das mensagens, na primeira parte nós falamos que quem
quer alcançar os seus propósitos deve se preparar para a oposição e uma das
formas das oposições que surgem são os conselhos. Conselhos que aparentemente
são bons podem nos livrar das adversidades, mas junto com o livramento das adversidades,
os conselhos podem nos tirar do alvo pelo qual estávamos decididos a conquistar
ou achegar. A base foi no verso trinta e um quando os fariseus chegam a Jesus e
aconselham-no a retirar-se porque Herodes queria matá-Lo. Então nós falamos que
precisamos de discernimento para não aceitarmos conselhos que
aparentemente são bons, mas que vão nos desviar, tirar-nos do alvo pelo qual
estamos decididos a chegar. Na segunda parte nós falamos nos versos trinta e
dois e trinta e três, que Jesus disse: “Eis que hoje e amanhã Eu expulso
demônios e curo enfermos e no terceiro dia terminarei. Então
mostra Jesus aqui fazendo um planejamento da sua vida.
Fazendo um planejamento para atingir os seus propósitos e nós falamos aqui que
nós precisamos, quem quer vencer os propósitos, atingir os seus propósitos, vai
encontrar oposições e a segunda oposição que nós vemos aqui nesse versículo é
que não conseguimos definir prioridades, surgem muitas coisas importantes
em nossas vidas e nós temos que definir, discernir entre aquilo que é
importante e aquilo que é prioridade. Nem tudo que é importante é prioridade.
Então Jesus aqui, Ele planeja o que Ele iria fazer com os três dias de vida que
lhe restavam e nós temos propósitos, temos projetos, mas não estabelecemos como
chegar a estes projetos, não fazemos um planejamento para alcançarmos este
projeto. Jesus tinha certeza e tinha convicção que tinha três dias de
vida. Ele sabia quantos dias de vida lhe restavam, e nós não sabemos, nós
não temos convicção sequer se temos um dia de vida, então nós devemos nos
programar podemos ter trinta anos, mas podemos ter três dias. Então nós devemos
ter em mente aquilo que queremos realizar. E ai nós falamos do grande problema
da grande adversidade que nós encontramos que para mim, penso eu ser a maior,
aquele de querer fazer muito e não fazer nada, começar muito e nunca terminar,
fazer muitos projetos, mas muitos abortos. Nós criamos muitos projetos, mas
normalmente abortamos estes projetos até mesmo antes de iniciar. outros começam,
mas não terminam. Jesus disse não, hoje e amanhã efetuo curas e expulso
demônios, mas no terceiro dia Eu sei aonde vou está. Eu tenho programação, eu
tenho um propósito. E na terceira parte que é o versículo que nós lemos, dando
continuidade, Jesus aqui, Ele faz uma confissão triste e ai eu convido você a
crer pela fé, e agora convido realmente a não querer entender com a razão.
Porque a razão e a fé não são duas coisas opostas. Tem pessoas que acham que
para ter fé precisam crucificar a razão, ou seja, e ai devido ao extremismo de
algumas pessoas, alguns intelectuais fazem a afirmação que ao meu ponto de ver
é injusta e absurda. Que o evangelho é para a massa proletária é para o povo
inculto, sem cultura, precisa sacrificar a intelectualidade, para aceitar a
mensagem do evangelho, primeiro que isto é injusto, segundo que isto não é
real. O que acontece são pessoas mal preparadas, pessoas sem estrutura que
extremizam, que são fanáticas. Pessoas que acham que a fé ela é irracional, e
não é. Podemos concordar que a fé transcende a razão; podemos concordar e é
fato, pelo menos para quem crer que há momentos em que a fé deve transcender,
ou seja, deve estar além a razão, ela não alcança todas as dimensões da fé.
Neste caso sim, ai nós podemos realmente entender assim. Podemos realmente
aceitar esta filosofia. Porque no texto em que nós lemos, nós estamos falando
do Deus que se fez carne. A nossa confissão de fé, quando eu digo nossa
confissão de fé, eu digo do cristianismo, e quando eu digo do cristianismo eu não
estou falando do cristianismo protestante com herança dos postulados ou
doutrinário da reforma de Lutero, dos reformadores, mas estou falando do
cristianismo é, universal, incluindo até mesmo, até mesmo, o catolicismo
romano, incluindo até mesmo o catolicismo romano, e qual é a confissão de fé em
comum tanto com o cristianismo de herança protestante dos reformadores, e
quanto aos católicos com um apostolado da igreja do ocidente que é Roma. É de
que em Jesus há cem por cento de humanidade, e cem por cento de divindade. Vou
repetir, a natureza humana e divina em Jesus, em sua totalidade tanto divina
quanto humana, não é uma doutrina exclusiva dos evangélicos sejam
tradicionais, pentecostais ou neo-pentecostais, é uma doutrina magna que
abrange tantos os cristãos reformados quanto os católicos, quanto os católicos
ortodoxos russos, então é uma doutrina abrangente. Nós discordamos em alguns
itens, mas a humanidade e a divindade de Jesus é unanimidade até mesmo entre
católicos e cristãos. E neste texto que nós lemos nós temos que transpor, nós
temos que ir para a dimensão da fé, por que e não da razão? Porque Jesus faz
uma confissão no mínimo difícil de se entender e porque não dizer impossível se
entender de uma forma racional, Ele diz: “quantas vezes eu quis
te juntar como a galinha faz com os seus e não consegui.” Nós vemos a confissão de um Deus
onipotente, impotente, vou repetir, esta confissão de Jesus dizendo “quantas
vezes eu quis e não consegui,” e se alguém quiser dizer q é por causa da
humanidade dEle, que Ele estava vivenciando é interessante, mas não é a
conotação do texto, primeiro porque Ele
diz eu quis, está no passado,
segundo não há registro de Jesus tentando trazer Jerusalém para junto de Si a
não ser antes da encarnação. Então aqui está uma confissão, primeiro, uma
confissão da divindade de Jesus e da sua eternidade, eu disse passado. Segundo uma confissão de que a
onipotência de Deus é regida, veja, eu vou falar aqui com muito temor e muito
cuidado e vou explicar para que não haja mal entendido. Deixa-me explicar com
bastante clareza, não estou afirmando que Deus não é onipotente, não estou
contrariando uma doutrina que é uma doutrina aceita por diversas denominações
de origem diferente no sentido doutrinário, mas eu estou dizendo e vou dizer o
que, que a onipotência de Deus não rege o homem, por que? Porque Deus não se
relaciona com o homem na dimensão do poder, mas sim na dimensão da liberdade.
Isto não significa que Deus não tem poder, não é isso. Isso significa que Deus
abre mão do seu poder, veja, Ele abre mão de usar o seu poder para que o homem
use a sua liberdade. Porque se Deus se relacionar com o homem usando o seu
poder precisaremos então, excluir a liberdade do homem. Eu sei que é um assunto
um pouco difícil de se entender, mas é mais ou menos assim, ou Deus limita as
ações dEle, limita a sua soberania, para que o homem tenha uma real liberdade
ou livre arbítrio ou Deus usa o seu poder exclui o livre arbítrio do homem.
Aliás, essa teologia da soberania de Deus em detrimento ou em cancelamento da
liberdade do homem, ela existe e ela foi originada na reforma, a doutrina é
chamada calvinista ou de Calvino que, aliás, não teve sua origem em Calvino, a
origem foi no quarto século em Agostinho e qual o raciocínio? O raciocínio é o
seguinte: se Deus é todo poderoso e usa o seu poder e faz a sua vontade, se a
vontade de Deus é sempre perfeita, logo a vontade do homem tem que ser anulada.
Então essa é uma doutrina que foi a força praticamente da reforma. Soberania
divina em detrimento ou cancelamento da liberdade humana, mas nós não cremos
assim. Nós cremos que Deus é soberano ao mesmo tempo em que o homem é livre.
Essa outra teologia é chamada de Arminiana, que também não teve a sua origem em
Armínio e sim em Pelágio, contemporâneo de Agostinho. Veja, no século quarto
depois de Cristo, Agostinho defendia a soberania divina e não o livre arbítrio
do homem, Pelágio defendia o livre arbítrio do homem. Porém Pelágio era um
tanto extremista, ao ponto de dizer que Deus não era soberano. Praticamente
agora na reforma Calvino ressuscita o pensamento de Agostinho defendendo a
soberania divina e Armênio em contra partida defende a liberdade do homem.
Porém Armínio não excluía a soberania divina, mas ele dizia o seguinte: se
existe soberania divina como existe, e se existe liberdade humana, então,
alguém tem que abrir mão de alguma coisa. Jesus aqui Ele diz o seguinte: quantas vezes Eu quis, mas não
consegui ora, se o
relacionamento de Deus para com o homem é um relacionamento de poder e quando
eu digo relacionamento de poder eu estou falando de fazer com que a sua vontade
sempre seja feita. Nós estamos falando então, de relacionamento com Espírito,
por exemplo, da filosofia marxista, da filosofia da ditadura e do comunismo,
onde sacrifica-se a liberdade da maioria para o governo da minoria, ou seja: se
o relacionamento de Deus para com o homem é um relacionamento em que Deus vai
sempre fazer a sua vontade, então o modelo de relacionamento é praticamente
ditadura, onde a vontade do soberano é realizada. Este estilo de relacionamento
é colocado, por exemplo, na monarquia. Na monarquia a vontade do rei é
realizada e não a liberdade dos súditos. Só que Jesus aqui Ele diz o seguinte: não, Eu tenho poder, sempre tive
poder, mas Eu fui frustrado. Ele diz: eu quis e não consegui. E não adianta
tentar com raciocínios filosóficos, tentar arrumar alguma coisa para dizer que
a vontade de Deus não foi frustrada, porque não dá. Não tem jeito, o texto é
claro, Eu quis e não consegui.
Agora tem pessoas que acham que um Deus que limita a sua soberania, não é
soberano, ledo engano. Governar um país ou uma nação com imposição, onde todos
se submetem, acaba sendo fácil para quem governa Difícil é governar um país
onde as pessoas têm liberdade para contrariar a vontade do governante. Eu não
vejo aqui, vamos dizer que a soberania é limitada, que Deus não tem poder, pelo
contrário eu afirmo justamente o oposto. O oposto é verdadeiro, que precisa
muito poder para manter um governo onde o rei respeita a liberdade dos súditos,
é o caso aqui de Jesus. Ele diz, olha o meu governo, é um governo centralizado
no amor, e o amor dá liberdade ao outro. O amor não coage, não pressiona o amor
não busca os seus próprios interesses. E ai eu vejo algo muito maravilhoso aqui.
Paulo escrevendo aos coríntios ele diz que o amor não busca os seus próprios
interesses ai eu começo entender o amor de Deus, porque o amor de Deus não
busca os interesses dEle, o amor de Deus busca os interesses do objeto do seu
amor que é o ser humano, por isso Deus não violenta a liberdade do homem em
aceitá-Lo ou rejeitá-lo. Jerusalém!
Jerusalém! Quantas vezes eu quis, nós vemos aqui uma confissão de um Deus
onipotente, impotente, de um Deus que tem todo poder, se auto limitando,
abrindo mão de exercer o seu poder. Não é que Ele perdeu o poder, pelo
contrário, Ele fortaleceu o seu poder através da liberdade. E nesta
reflexão vivendo com propósitos, o que é que nós podemos aprender aqui com as
atitudes de Jesus com relação a Jerusalém.
Terceiro
se você quiser alcançar os seus propósitos, você deve entender que Deus deu
liberdade para as pessoas frustrá-Lo. Deus deu liberdade para as pessoas
rejeitarem o seus propósitos, não queiram que os outros aceitem os seus
propósitos contra a própria vontade. Não obrigue ninguém a aceitar os
propósitos que você tem para ela. Porque nem Deus se relaciona assim com o
homem. O próprio Deus aceita a possibilidade de ver os seus propósitos sendo
rejeitados pelo homem. Mesmo Ele tendo poder, para impor Ele escolheu dá
liberdade às pessoas de rejeitá-Lo. Então não queira que os outros aceitem os
seus projetos pela violência, pela coação, pela imposição, porque se não você
vai ter com você pessoas ao seu lado, você terá pessoas que estarão ao seu
lado, mas não estarão verdadeiramente com você. Deixe-me repetir que isto é
muito sério. Se você impuser os seus propósitos para as pessoas que você ama e
quiser obrigá-la a acompanhar você, você pode conseguir e certamente vai
conseguir. Sabe por que vai conseguir? Porque o poder, quem detém o poder, tem
força para impor. Só tem uma coisa, você vai violentar a liberdade do outro,
você vai ter uma pessoa ao seu lado, mas não terá esta pessoa com você. Você
terá pessoas que farão com os seus projetos, mas não estarão com você. Olhe o
que Jesus estava dizendo para Jerusalém: o
meu desejo era ter vocês comigo, mas não através da opressão, da chantagem, da
coerção, e ai abrindo um parêntese você marido, você mulher, você pai, você
filho, nós maridos, vocês as mulheres, temos que entender uma coisa, você pode
obrigar a pessoa que está com você a participar dos seus projetos, mas você não
pode obrigar a pessoa a está em alma com você nos seus projetos. Você pode ter
uma mulher que te acompanha, naquilo que você realiza, mas você não pode
colocar o coração da sua mulher nas suas realizações. Pai, você pode obrigar o
seu filho a seguir os seus passos, você pode obrigar o seu filho a seguir a sua
profissão, mas você não pode obrigar o seu filho a seguir a sua profissão, você
não pode torcer, não pode inclinar através da opressão, através da força, o
coração de quem você ama. Cuidado muitos maridos tem as suas mulheres com eles,
as mulheres estão ao seu lado, mas não estão com eles. Obrigam as mulheres a
estar com eles na igreja todos os dias, obrigam-na a ser obreiras, acompanhá-los
e elas vão, abaixam a cabeça e vão, mas são pessoas frustradas, são pessoas que
só não te largam porque você é opressor, é dominador, é tirano, é ditador. Aí
você me diz assim: irmão e os meus projetos, o que é que eu faço? Sabe o
que você faz? Reavalie os seus projetos. Veja, pense bem se os seus projetos
não são projetos, que não vai violar a liberdade da pessoa que você ama. Não
transforme as pessoas que estão com você, em seus adversários. Cuidado! A
liberdade é algo que está na natureza do homem. Ao soprar no homem Deus deu o
princípio básico para a sobrevivência do homem que se chama liberdade.
Liberdade de questionar, de não aceitar. A liberdade é a base do relacionamento
de Deus para com o homem. Não pense em fazer com quem você ama aquilo que nem
Deus quis fazer. Vou repetir esta colocação: Cuidado! Não pense em fazer com
quem você ama aquilo que nem Deus quis fazer.
Deus
aceita a rejeição dos seus projetos. Você também deve está pronto. Porque a
liberdade do outro é mais importante do que a sua realização. Porque você pode
se realizar oprimindo outro, mas nunca você poderá trazer o coração do outro
onde você está.
Por
J.Lima. (Professor, teólogo, escritor).