Vivendo
com propósitos
Lucas 13.31-35
Quando
se vive com propósitos, temos forças para vencer os obstáculos, uma pessoa que
tem propósitos definidos, é menos propensa a depressão, pois a mente ocupada,
tem maior resistência no tocante às frustrações da vida.
A
força do propósito levou Santos Dumont a tentar 13 vezes levantar vôo com a seu
14 Bis, pois o nome mostra que somente na décima quarta vez ele
conseguiu o seu objetivo, ele não desanimou, o seu propósito era maior do que
os obstáculos que enfrentou, por isso colocou o seu nome na história.
Os
grandes nomes da história viveram com tal intensidade os seus propósitos que
nada os detiveram, foram incansáveis, o desejo de conseguir o que se propôs a
foi o combustível para a sua perseverança.
Jesus
mais uma vez é um modelo impar na história, ele tinha propósito bem definido,
ir até a cruz, consumar a obra da redenção e enfrentou diversos obstáculos, mas
deixou lições valiosas para quem quiser ir até o fim em seus objetivos, ele
enfrentou todo o tipo de adversidade, mas nada o deteve.
No
Evangelho segundo Lucas 13.31-35 Jesus
agiu diante dos obstáculos que surgiram para o tirar de seus propósitos, e
podemos aprender com ele como fazer para que os obstáculos não nos desviem de
nossos propósitos.
Se viver com propósitos: Cuidado
com conselhos de pessoas que não querem o seu bem, mas oculta as suas reais
intenções com conselhos que parece bom[i].
Os fariseus não
tinham interesse no bem estar de Jesus, pelo contrário, eles eram invejosos,
queriam de qualquer jeito desviar Jesus de seus propósitos, e estavam dispostos
a tudo para isso, até mesmo demonstrar “preocupação” com o seu bem estar, veja
na fala: “Retira-te daqui e vai porque Herodes quer matar-te[ii]”
acontece que eles também queriam colocar Jesus em situação de risco sempre
procurando algo para o acusar.
“Saindo Jesus dali, passaram os escribas
e fariseus a argüi-lo com
veemência, procurando confundi-lo a respeito de muitos assuntos, com o intuito de
tirar das suas próprias palavras motivos para o acusar”[iii].
O que leva alguém que não quer o bem do
outro dar um conselho para preservar aquele que ele quer destruir? A maldade
humana usa até mesmo, gesto de bondade para esconder a maldade, há uma
camuflagem tão maquiavélica que se for para prejudicar aquele que é alvo da
inveja, vale até fingir que está preocupado com o seu bem, quando na realidade
quer o destruir!
Conselhos
não são dados para ser acatados, mas para ser julgados, a bondade de um
conselho não pode ser qualificado por livrar ou não quem o recebe dos
obstáculos, mas até que ponto o livramento dos obstáculos poderá o tirar do alvo.
Os
adversários dos nossos objetivos estão dispostos até a usar a “bondade”, como
forma de “maldade”, visto que o fim último do invejoso é impedir aqueles que
perseveram em seus objetivos a conseguir aquilo a que se propôs!
Às
vezes na “má” - temática da vida, que nunca é exata, o grau de adversidade, é
proporcional a grandeza do propósito, Jesus sabia dessa realidade afinal nenhum
homem viveu com propósitos tão sublime quanto Ele.
Não
era só Herodes adversário dos seus propósitos, mas os próprios fariseus que se
sentiam ameaçados, devido à leveza do fardo que Jesus propôs aos seus
seguidores. O termômetro que mede a grandeza do propósito está na adversidade a
ser enfrentada para realizá-los, “Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua
posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará em suas
mãos”[iv].
Nunca aceite conselhos de ameaças, que somente “pré” - vêem as dores que
você enfrentará, pois essas, outros podem ver, mas a alegria da realização nem
sempre vemos ou “pré” - vemos, mas experimentamos:
“Ele verá o fruto do
penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o
seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará
sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos
repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado
com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos
transgressores intercedeu”[v]
Se viver com propósitos:
Defina prioridades, pois Jesus definiu o que iria fazer em três dias, e não
sabemos sequer se temos um dia para realizar aquilo que desejamos.[vi]
Jesus colocava os seus propósitos acima
de qualquer ameaça, não permitia que ninguém determinasse quais deveriam ser as
suas prioridades, naquele momento da sua vida, ele sabia que só tinha mais três
dias, e já tinha traçado a sua estratégia de como alcançar o que havia
determinado:
“Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer
a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo
enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Importa, contudo, caminhar hoje, amanhã e
depois, porque não se espera que um profeta morra fora de Jerusalém. (Lucas 13:32-33).
Jesus tinha duas prioridades antes de
conseguir o seu propósito, expulsar demônios e curar enfermos, e fala que no
terceiro dia teria êxito, mesmo com todas as ameaças, ele teve firmeza.
Quem quer realizar os seus propósitos,
deve ter firmeza de convicções, ser destemido, não se intimidar com ameaças,
enfrentar as oposições que muitas vezes são explicitas, mas também podem ganhar
uma forma implícita, sutil, camuflada por pessoas cheias de maldade, com
estereótipo de bondade, usando uma fala de bem, para ocultar o mal, mesmo assim
Jesus, não se intimidou, estava caminhando para a morte, mas essa não o
assustava pois era para isso que tinha vindo.
Quando temos convicção do que queremos nada
pode intimidar, nem ameaças externas, tão pouco internas, o que assusta a muitos, podem ser alvo de nossos
desejos, e aquilo pelo qual lutamos e desejamos não pode ser objeto de medo!
Quem tem propósitos deve ter
planejamento, não sabemos quanto tempo temos, mas podemos ter esperança que
teremos tempo para realizar, o tempo que teremos não podemos definir, mas o que
faremos com o tempo que tivermos,
devemos programar!
Se viver com propósitos:
Entenda os seus propósitos nem sempre serão aceitos pelas pessoas que você ama
nunca as force, pois Deus deu a elas até o direito de rejeitá-lo! (Lucas 13.34)
“Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas
vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio
ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes”!
O livre arbítrio é a liberdade
que temos de optar por escolher os propósitos de Deus para a nossa vida, ou
rejeita-los, é a liberdade que temos de dizer não para Deus, mas precisamos ter
consciência que a liberdade só vai até a decisão da escolha, podemos rejeitar Deus
e dizer não para Ele.
Ele não vai obrigar-nos a agir
contra a nossa liberdade, da mesma forma temos que respeitar a liberdade dos
outros, às vezes ao fazer os nossos planos incluímos pessoas que não querem o
mesmo que nós, enquanto as queremos juntos, elas desejam estar longe.
Jesus entendeu, aceitou a
rejeição, queria o melhor, mas para o objeto do seu desejo o melhor seria não
estar com Ele, sentiu-se frustrado, lamentou, entristeceu, mas respeitou o
direito de escolha! Da mesma forma devemos entender que as pessoas que amamos,
também podem rejeitar o que de melhor queremos dar a elas, ficaremos tristes,
frustrados, decepcionados, mas não devemos cometer o erro de querer que elas
aceite a força aquilo que queremos para elas.
Às vezes usamos o argumento que
queremos o melhor, mas quem deve decidir o que é melhor para si e a própria
pessoa, devemos lutar ir até elas como fez Jesus que mesmo sabendo que seria
rejeitado não desistiu de Jerusalém: “Importa, contudo, caminhar
hoje, amanhã e depois, porque não se espera que um profeta morra fora de
Jerusalém. (Lucas13:33).
Devemos lutar por quem amamos fazer o que for possível para
protegê-las, ir até elas, enfrentar todas as oposições, e mesmo sabendo que
podemos ser rejeitados juntamente com nossos projetos em relação a elas, deixar
que elas tomem a decisão, se vai ou não nos acompanhar, esse é o prazer da
liberdade de quem tem o direito de dizer não, e a dor de quem sente a rejeição!
Se viver com propósitos:
Não se sinta culpado pelas decisões de quem você ama, a liberdade é um direito
de escolha, mas a escolha uma vez feita traz conseqüências inevitáveis! (Lucas13.35)
“Eis que a vossa casa
vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que
venhais a dizer bendito o que vem em nome do Senhor”!
Olhando
para a tristeza de Jesus ao ver Jerusalém o rejeitar, ao mesmo tempo em que ele
diz que outras vezes isso já tinha ocorrido, certamente ele se referia a
história de Jerusalém que sempre se desgarrava dos propósitos de Deus.
A
rejeição de Jerusalém a Jesus, mostra que Deus pode ser rejeitado, e que não
forçará o homem a aceitar os seus propósitos, mas toda ação tem uma reação, não
uma ação de Deus como vingança pela rejeição, mas as conseqüências de rejeitar
livremente a Deus, traria para
Jerusalém, o domínio das nações, escravidão e perseguição, não porque Deus iria
se vingar, mas as conseqüências de uma nação que mais uma vez rejeitou os
propósitos de Deus, iria sofrer as conseqüências da sua liberdade de escolha.
Muitos
carregam a culpa por pessoas que resolveram seguir os seus caminhos, e ficaram
em situação de desolamento, decepções, olham para o outro e sentem-se culpado
por não ter feito mais do que fez, acham até mesmo que deveriam usar a força
para que o outro compreendesse que estava rejeitando algo que não deveria ser
rejeitado.
Marido
que se culpa por não ter persuadido a mulher à não tomar a decisão que tomou,
pais que se culpam por que os filhos fizeram escolhas que hoje estão sofrendo
as conseqüências, alguns interpretaram
erroneamente esse versículo de provérbios “Ensina a criança no caminho em que
deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. (Provérbios 22:6).
Precisamos observar que “ensinar” na
cultura judaica, é diferente da metodologia aplicada no ocidente, pois
“ensinar” é a atitude daquele que transmite o conhecimento, fazer na prática,
aquilo que deseja que o aluno “aprenda”, ou seja, é uma dialética entre o sujeito
e o objeto do ensino, não é uma transmissão de mandamentos, para
se gravar no intelecto!
A Pedagogia não pode ser subjetiva
e sim objetiva, a criança aprende conceitos abstratos através da associação
com o que é concreto, ela não entende a fala do pai quando ele diz que a
“ama”, mas se o pai a abraça e diz que a ama, ela irá associar o subjetivo
“amor”, com o concreto “abraço”, isso quer dizer que a teoria e a
prática na cultura Judaica cristã, não segue a epistemologia grega de que a
teoria antecede a prática, mas sim que uma age e inter-age com a outra, juntas,
de forma que a teoria necessita da prática, e toda prática tem uma teoria,
ainda que essa nem sempre esteja explicita.
O
pai na cultura judaica não se preocupava em passar conceitos teóricos,
mas a prática dos conceitos, visto que a mentalidade da criança, não
decodifica o abstrato, a vida dúbia de muitos pais cristãos levou-os ao
equivoco de que uma criança que vai a igreja aprende mensagens de conceitos
, quando eles em casa agiam concretamente, em antítese aos
conceitos da sua fala.
Mas o que provérbios está falando é que
uma criança que aprende com os pais olhando a sua prática de vida, pode
até não seguir os passos dos pais, por terem livre arbítrio, mas terão
consciência até a velhice do que aprendeu, pois a sua mente tem gravada não só
as palavras, mas os atos, que associados às palavras gravaram de
forma que jamais elas poderão culpá-los por ter seguido outro caminho! Isso
deve tranqüilizar os pais, pois eles não podem ser responsáveis pelas decisões
de seus filhos, quando esses tiverem a capacidade de decidir por Si, qual o
caminho a seguir!
Jesus advertiu que Jerusalém sofreria
as conseqüências, se entristeceu por ter seus propósitos rejeitados, mas não
tirou o direito de Jerusalém o rejeitar, no entanto, ele jamais se sentiu
responsável pelo exercício da liberdade de quem o rejeitou. Não se culpe pelas
conseqüências das decisões de pessoas que você quis inclui-las nos seu
propósito, cada um é responsável pelas conseqüências das suas decisões!
[vi] Lucas 11.32-33
Por José Lima ( Professor, teólogo)