EGO?
“Pelas roupas rasgadas mostram-se os vícios menores: /as vestes de cerimônia e as peles escondem todos eles.” William Shakespeare.
Estava indo em direção a uma empresa, quando encontrei uma amiga totalmente transtornada, dominada por uma ira inclemente. Depois de algum tempo de considerações, após ouvir suas razões, ela se foi, deixando-me resolver o problema que a havia demudado tanto.
Ao aproximar-se da empresa ela percebeu que uma garota tinha seus cabelos jogados sobre os braços do seu marido, cujas mãos estavam apoiadas no balcão da loja. É de se entender que aquela cena era suficiente para provocar tal reação na minha amiga. Mas o que havia por trás daquela aparência?
Entramos na empresa, cumprimentamos alguns amigos e tomamos aquela moça pela mão e fomos a um lugar reservado. Ela havia jogado os seus cabelos nos braços do colega propositadamente ao ver que a esposa dele se aproximava. Se ela tinha algo contra a esposa dele? Não! Era uma provocação gratuita contra aquela senhora, aparentemente, movida pelo sentimento de disputa e por certo, alguma atração pelo colega.
Quando paramos e os nossos olhos se encontraram com firmeza, aquela moça silenciosa deixou que as lágrimas começassem a lavar o seu rosto marcado por uma visível desolação. Não foram necessárias muitas palavras. Não havia lugar para censuras ou lições de moral, mas apenas lembrar a ela o seu valor pessoal, o quanto ela era amada por Deus. Também fazê-la perceber o sentimento de dor que rebentava o coração da esposa do seu colega, ocasionado por ela por um momento de imprudência, e as consequências que ele poderia sofrer por um mal do qual ele não tinha cumplicidade.
Aquela garota chorou copiosamente, percebi, no entanto, que as suas lágrimas tinham outra origem, não eram motivadas pelos meus argumentos com relação a sua conduta. Confirmando os meus pensamentos, ela desfiou “apenas” algumas contas do seu rosário. O suficiente para que o meu coração se enchesse de ternura e empatizasse com a dor daquela garota.
Aquela cena não passava de uma fraude. Uma camuflagem de quem pedia socorro com um gesto insano. Ou seja, com tal atitude aquela garota estava realmente suplicando atenção, queria ser notada, saber que tinha atributos para conquistar alguém. Tanto que, após a nossa abordagem, ela agradecida nos abraçou longamente e tratou de reparar o seu erro abandonando o emprego para tranquilidade da esposa abatida pelo ciúme justificável e até mesmo por vergonha da sua atitude impensada.
“Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” (Tiago 213).