Rumo à África
“Sai da tua terra e da tua parentela e vai para a África”
Algumas vezes pessoas me disseram que não era bom ou não era de Deus que meu marido fosse para longe, ficando separado por tanto tempo de mim e dos nossos filhos. Entendo a preocupação delas, o carinho por nós. No entanto, a ninguém Deus andou dizendo que não concordava com a decisão do meu marido e do meu apoio à sua resolução.
Percebemos que o parecer de tais pessoas está marcado pela insegurança, pelo medo de que a distância e o tempo que nos separarão levem meu marido a buscar satisfação sexual com outra mulher por questões de abstinência, carência e até mesmo solidão, acarretando o perigo de um envolvimento completo com ela e em conseqüência o abandono a mim e aos nossos filhos. Isto na verdade seria uma possibilidade.
Certa vez eu estava na praia com meu filho mais novo, que ainda era bem criança, quando passaram por nós uns três casais. Enquanto dois casais seguiam seu caminho, um deles ficou para trás, porque o homem decidiu me olhar indiscretamente. Fiquei chocada diante da situação, quando ouvi a sua esposa chamá-lo e ele responder que ela fosse andando. Não imagino a humilhação e vergonha que sentiu aquela senhora, embora obedecendo. Meu filho ficou furioso, apesar da idade ele percebeu claramente a situação e ficou bravo comigo, embora eu não tivesse provocado aquela situação. Tomei a mão dele e sai para casa, no caminho, aproveitei o episódio para ensinar-lhe sobre a advertência de Deus para Caim:
“Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo.” (Gêneses 4.7).
É sabido, entretanto, que diariamente acontecem abandonos e traições. Inúmeros casais, mesmo tendo filhos e vivendo os dois diariamente juntos ou estando até mesmo vinte e quatro horas sob o mesmo teto, gozando de um relacionamento estável, são passivos de deslealdade quando um dos cônjuges perde a cabeça.
As tentações, as viradas de cabeça estão ai diante de nós no dia a dia, em um olhar, numa gentileza, num bate papo ou num simples perfume, como a escolha entre o jogar fora o seu lar e a construção hipotética de outro.
A satisfação sexual não pode ser uma prioridade em detrimento do bem estar da família que dependa da economia, da realização do macho, se responsável direto pela manutenção financeira do seu lar.
Assim como o sexo é para o homem uma fonte de prazer, de relaxe, o é para a mulher também. É uma questão de amor e responsabilidade de um perante o outro suportar um período de abstinência quando forçado por circunstâncias justas. Portanto, não vou jamais ficar subjugada ao medo de perder o meu marido, à obsessiva desconfiança de que ele “poderá” me trair ou abandonar.
O relacionamento entre o casal deve estar alicerçado em confiança mútua, em um amor incondicionalmente sadio. Não existe prisão para o amor. E, se houvesse, não traria nenhuma felicidade para quem prendesse alguém. Por mais bela e aconchegante que fosse sua prisão, o amor não mais cantaria belas canções.
Assim, bem longe, se foi o meu amado para Guiné Equatorial, onde a África o chamou, oferecendo-lhe um emprego que proporciona melhor renda que as empresas brasileiras. E eu sei, sem sombras de dúvidas, que ele tem uma única visão, focada sobre a família que lhe é mui cara. Não tenho motivos para tirar a paz dele com desconfianças ou medos, antes devo agradecer-lhe por renunciar tanto por amor de nós.
Guiomar Barba.